O antropólogo Edward Hall (1963) usou o termo proxemics para descrever os espaço pessoal dos indivíduos num meio social. O estudo das formas como nos posicionamos e nos movemos em relação às outras pessoas e como captamos e ocupamos o espaço envolvente, considerando a presença do outro. Alguns fatores de análise na relação entre as pessoas, como a distância entre elas, a orientação do corpo e do rosto, a forma como se tocam ou se evitam, a forma como se posicionam entre os objetos e os espaços, permitem perceber as mensagens latentes. Hall demonstrou que a distância social entre os indivíduos está relacionada com a distância física, mencionando 4 tipos de distância: distância íntima: para abraçar, tocar ou sussurrar (15-45cm); distância pessoal: para interação com amigos próximos (45-120cm); distância social: para interação entre conhecidos (1,2-3,5m) e distância pública: para falar em público (acima de 3,5m). Também se refere nesse trabalho que as diferentes culturas têm padrões diferentes de espaço pessoal. Pode-se verificar que nas culturas latinas a proximidade menor não causa desconforto e nas culturas nórdicas ocorre o oposto. Assim, a relação entre treinador e atleta, pode revelar muito da sua intimidade e sobretudo projetar uma imagem para quem observa o seu trabalho. Esta área de estudo é tão interessante que está a ser estudada para criar sistemas de organização de imagens nos computadores em função da forma como as pessoas se posicionam e se tocam nas fotos (Yang, Baker, Kannan, Ramanan, 2012). No ginásio, a forma como o instrutor invade o espaço íntimo dos alunos, pode dar uma imagem que “vende” uma relação profissional ou revelar uma situação de intimidade exagerada, afastando potenciais clientes.
Se virmos o marketing como tudo o que fazemos para criar uma relação comercial com uma pessoa, a nossa ação como personal trainers durante o treino, poderá aproximar ou afastar novos clientes. Apenas uma pequena parte da comunicação é conteúdo e, para além da voz, grande parte da comunicação é não verbal: posicionamento em relação ao aluno (de lado, de frente, de trás, oblíquo; a altura em relação ao mesmo), a postura, o olhar, a temperatura corporal, o cheiro, a distância, a forma como nos movimentamos, o ritmo dos nossos gestos e sobretudo a forma como os tocamos (costas da mão, com um dedo, mão em lâmina, usando uma toalha entre nós e eles), darão uma imagem de quem tem uma relação de respeito. Quanto menos invasivos formos, tanto melhor. Aliás, é nesta relação próxima que criamos rapport e geramos uma perceção no cliente e em potenciais clientes. Muitas das vezes, o conhecimento técnico do professor é enorme, mas a comunicação não verbal e sobretudo a comunicação proxémica é tão fraca que interfere demasiado no treino e na relação de confiança necessária para que ocorra a tão desejada modificação comportamental do indivíduo que estamos a treinar. Em suma, a comunicação proxémica é uma ferramenta de marketing muito poderosa para o personal trainer e para a criação de um estado ótimo para o cliente obter os melhores resultados.
Ficam alguns vídeos para ilustrar:
Um tom humorístico sobre procedimentos inadequados do professor 🙂
Como ensinar exercício (um método)
Outro exemplo
Bibliografia
Hall, E. (1963). A system for the notation of proxemic behavior. American anthropologist, 65(5).
Yang, Y., Baker, S., Kannan, A. e Ramanan, D. (2012). Recognizing Proxemics in Personal Photos. 2012 IEEE Conference on Computer Vision and Pattern Recognition. Disponível em: https://www.cs.cmu.edu/~deva/papers/proxemics_2012.pdf